terça-feira, 20 de novembro de 2012

Duarte Marques: “Devo ter sido o português que deu a maior desanca em Merkel em público"

Duarte Marques vai deixar a JSD. Não esquece as culpas de Sócrates, a ponto de dizer que se o encontrasse na rua lhe dava “um foguete”


A conversa decorre entre um galão e um bolo de arroz. O pequeno-almoço que, no dia da greve geral da última quarta-feira, Duarte toma no bar do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, onde voltou para tirar o mestrado. Duarte Marques vai deixar de ser presidente da Juventude Social-Democrata (JSD) em Dezembro e aceitou falar com o i sobre tudo, da licenciatura de Miguel Relvas à relação com o primeiro-ministro.
Se não fosse deputado do PSD, tinha feito greve?
Se não fosse deputado, seria militante e apoiaria este governo.
Não tem motivo para se manifestar?
Tenho imensos. Acho até que os portugueses se começaram a manifestar demasiado tarde. A indignação que está hoje na rua devia ter acontecido há quatro ou cinco anos.
Que razões tem?
Ter uma geração endividada pelas anteriores, uma geração que não tem emprego, que não tem outro remédio senão emigrar, ter uma geração que tem o futuro condicionado brutalmente por uma governação insustentável, uma geração que não tem o país que merecia.
Foi por achar isso que apresentou queixa contra José Sócrates? Já há novidades?
Há pouco tempo o procurador geral da República teve uma postura inenarrável numa reunião, mas dois meses depois anunciou dois inquéritos sobre duas PPP sobre as quais lhe demos informação. Acho que valeu a pena. Os políticos não podem ficar impunes.
Devia então aplicar-se a outros governos?
Sim. Doa a quem doer. Também sei que há responsabilidade de pessoas no PSD.
Voltando à greve. O primeiro-ministro tinha como bandeira a paz social. Esta está posta em causa?
Está desde a TSU.
Vai ser prejudicial para Portugal?
Claro que é. Por duas razões: as greves param o país e prejudicam a economia e segundo porque se não diminuírem é sinal de que o governo não está a gerir as coisas melhor que no passado.
Já fez greve alguma vez?
Nunca fiz greve, mas já participei em manifestações. Estive por exemplo na manifestação da Geração à Rasca, porque achei que era um movimento apartidário.
E na de 15 de Setembro deste ano?
Não estive.
Mas não concordava com a TSU?
Não concordava, mas aquela manifestação não foi só por causa da TSU. Na outra estive porque achava que o governo já não era solução e nesta não fui porque acho que este governo é a única solução que o país tem. A falta de alternativa leva a que o país esteja condenado à única esperança, que é este governo. É por isso que este governo não pode falhar.
A sua solução não é este governo, mas este governo é a única opção, é isso?
A minha solução é este governo, acho é que para os portugueses não há outra solução.
Deixar a jota vai deixar de ser desculpa para uma certa rebeldia?
A JSD comigo na liderança não precisou das causas fracturantes do costume para aparecer e ter visibilidade. Afirmou-se com os temas do costume, como a educação e o desemprego jovem.
Nunca sentiu aquela atitude do “eles são os miúdos da jota, deixá-los dizer”?
Não. Senti respeito por parte do partido e do presidente do partido. Para mais com este, que foi presidente da jota. Na altura dele também era mais fácil. Eu costumo dizer-lhe isto e ele não gosta, mas era mais fácil destacar-se porque havia dinheiro. Agora não há dinheiro, tenho de pedir dentro das oportunidades que existem coisas para os jovens que não custem mais dinheiro ou que não sejam demasiado onerosas.
Qual o conselho que dá ao seu sucessor?
É uma máxima da jota: sê a voz dos jovens junto do partido e não a voz do partido junto dos jovens.
Qual foi a medida mais emblemática?
Aquela de que tenho mais orgulho foi o pacote de medidas de combate ao desemprego jovem.
As medidas que apresentou tiveram resultados práticos? É que o desemprego jovem continua a subir…
Ninguém pode achar que agora vai combater o desemprego em seis meses. Espero daqui a seis meses falar do Impulso Jovem com números maiores do que aqueles que são agora conhecidos.
A JSD pode um dia defender causas como a eutanásia?
A eutanásia sim. Mas isto é a minha opinião, não sei se será a da jota. Na política sou muito pragmático e menos ideológico. Não tenho uma linha certa. Acho que as boas soluções não têm ideologia.
E no ensino superior? Concorda com a redução de verbas para as universidades?
Acho que os reitores têm alguma razão, mas têm de dar alguma coisa em troca. Algumas universidades são muito preguiçosas na busca de receitas próprias, enquanto há escolas, como o Técnico, que busca receitas. As reitorias das universidades têm de assumir um papel mais activo na reformulação da rede…
Um dos cortes na despesa que pode vir a ser posto em cima da mesa é a fusão e a extinção de algumas universidade?
Fusão sim. Por exemplo, o esforço pedido aos professores do secundário é incomparavelmente superior aos do ensino superior. Tem de se alterar a forma como se dão aulas, as matérias leccionadas, e adaptar os cursos ao mercado de trabalho. Não é preciso fechar universidades nem politécnicos, é preciso especializá-los. Haver pólos direccionados para determinadas matérias e a investigação ser canalizada. O país é pequeno. Em Lisboa, Coimbra e Porto este problema não se põe. Em muitos politécnicos estamos a criar maus profissionais e por isso é que eu digo que esta geração não é a mais qualificada, é a mais certificada.
E que medida foi menos aceite pelo partido?
A da criminalização dos políticos criou muitos atritos.
Com o primeiro-ministro?
Não. Há coisas sobre as quais ele não se pronuncia, mas pelo olhar percebemos se ele concorda ou não, mas aí até foi na altura em que ele assumiu o governo com muitos esqueletos no armário e tenho a certeza que viu com bons olhos.
Fala com ele sobre as medidas que vai apresentar?
Quando o assunto depende dele, peço para falar com ele e proponho. A umas ele diz que não, a outras diz que sim. Quando se trata de discordar do governo ou de criticar algum membro do governo tenho o cuidado de o avisar.
Já lhe pediu para…
Nunca me pediu para não o fazer.
Quando criticou Miguel Relvas falou com ele?
Não.
E com Miguel Relvas?
Falei. Disse-lhe o que achava. Reagiu como fez publicamente. Ninguém acredita mas eu acho que ele foi naïf. Quem o conhece acha estúpido como é que ele, tão experiente, cometeu um erro destes. Isso só se explica por não ter a noção do que fez.
Porque acha que Relvas foi naïf?
Se ele achasse que não era normal ou que corria riscos, nunca teria feito o curso assim. Deve-lhe ter sido proposto assim pela Lusófona e ele confiou.
Ele é um verdadeiro licenciado?
De facto, não. Isto não pode dar uma primeira página do i [risos].
Há uma possibilidade de o Ministério da Educação retirar estes diplomas?
Já pusemos no parlamento um requerimento a pedir que se faça o mesmo a todas as universidades privadas.
Retirava-lhes os diplomas?
Às vezes quando as coisas estão feitas não há muito a fazer. Tenho a certeza que Miguel Relvas se pudesse renunciava ao curso que tem. Já lhe deu mais problemas. O que é que ganhou com aquilo?
E não pode fazê-lo?
Não sei se pode, mas agora também já é um pouco tarde para o fazer.
Tirou a sua licenciatura em quanto tempo?
Quatro anos e era presidente da associação de estudantes.
Concorda com o processo de Bolonha?
Bolonha foi uma fraude em Portugal. E tem nomes. E eu próprio irei apresentar em breve na Assembleia da República uma proposta para regular o reconhecimento de créditos em licenciaturas. Somos dos poucos países em que não há limite para os créditos sem ser por frequência. É um regabofe. Mariano Gago foi alertado para estes casos na Lusófona e ignorou.
Vai deixar de ser jota. Mas vai mesmo deixar de o ser?
Um jota é jota a vida toda.
Isso quer dizer que o primeiro-ministro ainda é jota?
Algumas partes boas da postura dele são jota. Eu acho que o grande desígnio deste governo é libertar uma geração, um país, acho que é um desígnio muito da juventude.
Vai consegui-lo?
Acho que está a consegui-lo. O grande desígnio deste primeiro-ministro é libertar esta geração. Acho que isso pode ser a custo da economia ou de alguma estabilidade social, mas está a conseguir.
E à custa do próprio governo?
Sim, à custa do próprio governo, da sua popularidade e da sua imagem.
O que vai fazer depois de sair da JSD?
Não sei. Às vezes penso se hei-de acabar este mandato. Terei agora um tempo mais apagado nas áreas da juventude para dar espaço a quem me vai suceder. Há muitas coisas que gostava de fazer. Gostava de trabalhar na ONU, gostava de ir para Moçambique ou para São Tomé trabalhar numa ONG que ajudei a criar. Costumo usar uma máxima do Nuno Morais Sarmento: tenho sempre o objectivo de ir para qualquer lado.
Quer vir a ser primeiro-ministro?
Tenho de ter a noção das minhas capacidades e qualidades e sei que há gente no partido e fora dele bem mais preparada que eu para isso. Quero ser feliz. Gostava de ir para Moçambique, como fiz aos 24 anos quando fui para Bruxelas. Depois houve um dia que me despedi e fui para Paris fazer uma curso de Francês.
Pode fazer isso porque tem condições…
Não sou de uma família rica, se tivesse dinheiro tinha estudado numa universidade americana ou inglesa. Até para fazer política tive sempre de trabalhar: vacinei cabras ao fim-de-semana e andei a desparasitar cavalos. Não controlamos o nosso próprio destino. Estou sempre de mala pronta para partir, é por isso que não compro casa, que não tenho outros encargos. Quando é preciso… zuca (estala os dedos).
Qual foi o seu presidente do PSD preferido?
Obviamente o Sá Carneiro.
E sem ser o politicamente correcto?
Nunca fui muito à bola com o Marcelo nem com o Marques Mendes, com o Menezes muito menos. Era muito próximo da Ferreira Leite, mas o Cavaco foi um mau presidente do partido e um grande primeiro-ministro. E Passos Coelho ainda não se sabe, está muito próximo.
E Cavaco como Presidente?
Acho que foi muto brando com Sócrates…
E está a ser duro com Passos Coelho?
Acho que não. Acho que faz o papel dele.
Não é uma “força de bloqueio”, como já lhe chamou?
Já teve dias em que foi. Quando está mais fragilizado às vezes pensa um bocadinho nele. Mas também quero dizer que foi o melhor Presidente da República. Mário Soares foi fundamental na democracia e foi um péssimo Presidente; Sampaio só se fez notar quando dissolveu o governo, não existiu. Foi Sampaio que fez o discurso do “há vida para além do défice” e impediu que um governo fizesse o caminho de contrariar o crescimento do défice.
E de outros partidos?
Acho mais graça ao Jerónimo de Sousa. Nunca falei com ele. Se há alguém que é o cúmulo da autenticidade, é ele. A mim quem não me conhece acha que sou um bocado pedante, mas depois acha que sou uma pessoa diferente. Jerónimo é mesmo muito autêntico. Aquelas rugas da cara revelam a sua personalidade e isso vale muito. Tenho muito respeito por ele, não tenho pelo Louçã. Já tenho pelo João Semedo, não tenho pela Ana Drago…
Com a Ana Drago tem a ver com aquele episódio na Assembleia da República?
Ela mente, mente descaradamente. Esse episódio foi mais um fait divers. Ficou marcado porque recebo imensos emails com o vídeo que o Bandex fez. Chateia- -me imenso.
Se tivesse de fazer o Orçamento do Estado aumentaria impostos?
Não sei. Talvez estivesse condenado a aumentar. O primeiro-ministro é a pessoa mais anti-impostos que eu conheço. É o que mais quer o Estado a sair da frente da iniciativa privada e individual.
Portanto é o mais liberal que conhece?
É o presidente do PSD mais liberal que conheço. Agora imagine-se o que é para ele ter de aumentar impostos. Está condenado a gerir o país desta forma.
A semana passada esteve cá Angela Merkel. Se a encontrasse na praia o que lhe diria?
Há gente mais agradável para encontrar na praia… Devo ter sido o português que deu a maior desanca na Angela Merkel em público. Há dois anos, quando foi o congresso do YEEP (juventude europeia social-democrata) em Berlim, fui eleito vice-presidente, foi na altura em que o PSD chumbou o PEC IV. Não me esqueço que ela era quase beijo na boca com Sócrates. Na altura criticou muito o PSD. Tive oportunidade de usar da palavra e de a criticar. Ela respondeu-me na mesma moeda. Tive de voltar para trás porque tive um problema no microfone e estava de joelhos e disse-lhe: “Olhe, estou de joelhos para poder falar, mas não estou de joelhos perante a senhora e perante a Alemanha.” Recordei-lhe que o grande problema era a falta de liderança na Europa e que os actuais líderes geriam a sua agenda consoante as eleições nos seus países. Ela não se tinha apercebido da crise do euro e deu demasiada cobertura a Sócrates. Por isso digo que é responsável pela situação a que chegámos. Hoje a imagem de Portugal é diferente, temos mais credibilidade.
O primeiro-ministro é o “nice guy from Portugal”?
Quando ela disse isso foi porque ele apoiou o Sócrates e ela estava muito contente. Achava que ele era um jovem. Só depois lhe ganhou respeito. Portugal também não pode esquecer que a Alemanha nos ajudou a pagar salários quando precisámos. Os portugueses não se chegaram a aperceber do abismo em que estávamos. Acho que o PSD chegou demasiado cedo ao governo, prejudica-se com isso. A bem do país, ainda bem que o fez.
Pode prejudicar ainda mais se continuar a enveredar pela estratégia do “que se lixem as eleições”?
Se isso significar tirar o país da situação em que está, então sim. Todos os preços se devem pagar a bem do país.
Uma pergunta provocadora: a que político dava um “murro na tromba” [a propósito da polémica que o envolveu com o deputado João Galamba]?
Ao Sócrates. Se o apanhasse na rua dava--lhe um foguete.
Fonte: Jornal i

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Élio suspende ponte pedonal para "criar consenso mais alargado"

O presidente da Câmara de Aveiro confirmou hoje a decisão de não construir "neste momento" a ponte pedonal no canal central, estando a ser removidos os taipais do estaleiro no jardim do Rossio.

 "Entre o suspender e o adiar, andamos por aí. Na sequência do diálogo que tem havido neste processo pareceu-nos prudente criar um espaço de aprofundamento em relação à ponte pedonal", referiu Élio Maia.

 Segundo o líder da edilidade, foi possível acautelar duas situação importantes: não haverá lugar a indemnização ao empreiteiro e está garantido o apoio comunitário se o projeto avançar em outra altura. "Pareceu-nos que estavam reunidas as condições para aprofundar o assunto e procurar um consenso mais alargado", declarou.

 Para Élio Maia, "a obra" de ligação ao lugar do Alboi "continua a ser estruturante no enquadramento do parque da sustentabilidade". Ficará, contudo, em aberto a sua construção aproveitando o próximo quadro comunitário (2014-2020), a decidir pelo elenco camarário do mandato seguinte.

Fonte: Notícias de Aveiro