Ressaca Autárquica
No artigo deste mês
existe um tema obrigatório e central a todo o contexto político nacional, as
recentes eleições autárquicas, realizadas a 29 de Setembro. Processo que
terminou com uma vitória do PS e uma derrota do PSD.
Assim comecemos pelo
panorama nacional, onde o BE desaparece do mapa em termos de liderança
autárquica, e com um péssimo resultado a nível nacional, elegendo apenas 8
mandatos em executivos camarários, um cartão vermelho a uma liderança bicéfala
sem expressão, mas que se disse vitoriosa na noite eleitoral, alucinação pura!
A CDU aumentou a sua expressão autárquica passando a liderar 34 autarquias, na
sua maioria a sul do tejo, um bom resultado comunista. O CDS apesar de ser
Governo a nível nacional aumentou para 5 lideranças de câmara a sua presença
autárquica, um bom resultado apesar de estranho, talvez explicado por questões
locais, por exemplo no distrito de Aveiro houve 2 autarquias a mudar para a
alternativa CDS, pois a liderança era PSD. O PS teve uma vitória nacional que
resultou do somatório do voto protesto, adicionando questões locais, pois
Seguro não vale neste momento 37% do eleitorado. Mas os vencedores do dia
eleitoral, foram a abstenção, e os brancos e nulos que subiram em percentagem e
votos expressos, 100.000 e 80.000 votos respetivamente.
De notar que os
dinossauros autárquicos sujeitos a sufrágio tiveram avaliações locais bastante
dispares, penalizados fortemente em Lisboa e Porto por exemplo, e reconhecidos
em Aveiro e na Guarda nomeadamente, notando que o eleitorado continua dono do
seu futuro!
Em Gaia e
Matosinhos por exemplo, PSD e PS perdem a autarquia por guerras internas de
poder partidário, era desnecessário este desfecho, bastava ouvir/unir as
pessoas.
Na Madeira, começa
a sentir-se o desgaste de Alberto João Jardim ao perder sete autarquias, Miguel
Albuquerque que perdeu por pouco na última eleição laranja na Madeira parece ter
agora mais condições para preparar o assalto ao trono.
A nível distrital
muitas analises subjetivas podem ser efetuadas! Ponderemos algumas delas.
Em termos de votos
expressos, o PS venceu nos votos para dois órgãos municipais e o PSD venceu em
votos para as juntas. Apesar de ambos perderem votos de forma expressiva face a
2009.
Em termos de autarquias
o PSD perdeu três autarquias, liderando atualmente apenas 11, enquanto o CDS
conquistou duas ao PSD, um excelente resultado, onde Paulo Portas empenhou
muito do seu esforço pessoal com diversas visitas ao distrito. A outra
autarquia foi perdida para um grupo de independentes ex-PSD. A vitória do PSD
em Ovar acaba por ser menorizada devido ao resultado geral.
No distrito, o CDS
venceu pelo crescimento autárquico que teve ao conquistar duas câmaras e por
ter crescido em votos à semelhança da CDU e o PS venceu em votos, o PSD continua
com mais câmaras no distrito e na CIRA, mas perdeu claramente este processo
eleitoral.
A nível local,
Aveiro, sofreu de uma campanha dura e menos elevada do que seria esperado para
uma terra de liberdade, desta feita sofreu de demasiada liberdade. Apesar do
ruido de fundo, centrar-me-ei nos factos, São Bernardo manteve-se fiel a uma
linha de orientação que a lidera há muitos anos e tornou-se a única freguesia
liderada pela coligação independente Juntos por Aveiro, que foi a grande
derrotada do dia, pois recandidatando o atual presidente da autarquia, apenas
arrecadou cerca de 3.500 votos, mas de registar é que com a exceção de Santa
Joana, os candidatos à junta deste movimento conseguem obter mais votos
expressos que Élio Maia, resultado para ser analisado pelo próprio.
O PS perde
percentualmente 9%, mas nas urnas perde 2.500 votos, apesar de manter os três
vereadores e os oito elementos na Assembleia Municipal. Nas juntas conquistou
apenas duas em dez, perdeu influência no centro de Aveiro com a agregação da
Vera Cruz à Gloria onde perderam e registaram a surpresa da noite ao não vencer
em Esgueira. Também Eduardo Feio regista o fenómeno de ter menos votos que os
seus candidatos a presidentes de junta, em linha com o meu último artigo “Parece-me que o PS
concorre para piorar o resultado eleitoral de 2009, sem projeto, sem chama, sem
presença.”
O PCP cresceu em percentagem, votos e eleitos, um sinal
de trabalho da estrutura concelhia e de honestidade com o seu programa e com os
aveirenses ao longo dos últimos 4 anos, o BE perde percentagem, votos e
eleitos, fruto de uma postura aleada da realidade aveirense, foi um claro
cartão vermelho.
Por fim, Aliança com Aveiro, aconteceu o oposto de Élio
Maia, o candidato da coligação obteve mais votos que os seus candidatos às
juntas, com exceção de Cacia onde foi semelhante o número de votos. Ribau
Esteves venceu em quase toda a linha, maioria absoluta no executivo, na
Assembleia Municipal e sete em dez juntas de freguesia, entre as quais
Esgueira, a surpresa da noite. Aveiro afirmou claramente que queria Ribau a
governar a autarquia no próximo mandato, pois houve voto PS e Juntos por Aveiro
no candidato da Aliança com Aveiro.
Como reagirá internamente o PS, o que fará a oposição
interna de Eduardo Feio? E no PSD e CDS qual será o futuro dos
dissidentes?
O único patamar onde o PSD venceu foi o local (muito
por força do candidato), perdeu a nível distrital e nacional, levando a serem
convocadas eleições diretas e congresso nacional para o início de 2014, depois
de um verão quente, parece que o Natal também o será!
P.S.: Tentei evitar o tema Oeiras, mas tenho que
registar a celebração dos apoiantes do movimento vencedor junto ao
estabelecimento prisional onde se encontra Isaltino Morais, era desnecessário,
e são momentos como este que deterioram a imagem dos muitos políticos sérios e
com brio no que fazem.
Bruno Costa
Membro
da Assembleia Municipal de Aveiro
Ex-Presidente da JSD Aveiro