sexta-feira, 8 de março de 2013

Hugo Soares: "Este governo ou sai escorraçado ou sai em ombros"

O presidente da JSD diz que os jovens não se revêem na classe política e admite que é difícil ter voz para defender o governo de Passos


A conversa com o presidente da JSD começa pelas fotografias. Faz um sorriso forçado e exclama que “nos tempos que correm” é difícil sorrir melhor. Hugo Soares diz que mudar o mundo “devagarinho” e não se importa de dar a cara por manifestações por melhores condições para a geração que “está enrascada”.
Antes de a entrevista começar disse que nos dias que correm é difícil não fazer um sorriso amarelo. E é difícil ser jovem do PSD?
É difícil ser político e ser dirigente. E de uma estrutura de juventude partidária ainda é mais. Os jovens não estão afastados da política. Nunca como agora - e as manifestações são prova disso - os jovens se interessaram tanto pelo futuro colectivo. Outra coisa é o afastamento dos políticos: não se revêem na classe política.
O que pensa a JSD fazer para aproximar jovens e políticos?
As pessoas só se aproximam se reconhecerem nos políticos um exemplo. O grande papel das juventudes partidárias é dar a visão de um jovem sobre os problemas transversais do país. A reforma do Estado é uma questão fundamental. Outra é credibilizar a vida pública. Já apresentámos três propostas ao primeiro-ministro: ao nível dos partidos entendo que o financiamento partidário e de campanhas deve ser exclusivamente público, o que acaba com a lógica de que há pessoas com interesses a financiar partidos; na Assembleia da República proponho que se crie um conselho de ética que analise do ponto de vista ético (e não de lei) as incompatibilidades dos deputados; e por fim, ao nível do governo houve uma lógica de encomendar legislação a escritórios de advogados que não faz sentido, quando temos universidades com os melhores professores a precisarem de ser financiadas.
Miguel Relvas deu o exemplo aos jovens portugueses?
Na esfera de actuação dele enquanto ministro, tem sido um excelente ministro.
A pergunta era no sentido político…
Percebo que a pergunta seja se um ministro que tem sido atacado por um conjunto de questões deve continuar no governo? Essa é uma responsabilidade do primeiro-ministro…
Os portugueses olham para Miguel Relvas e vêem essa credibilidade que defende?
Não vou extrapolar. O presidente da JSD tem total confiança no desempenho das funções do ministro.
É uma resposta politicamente correcta.
Não é. Não sou de meias palavras. Não concebo que num país como este se linche publicamente uma pessoa.
É isso que está a acontecer?
Acho que se tentou fazer isso com ele. Não concebo isso se não houver razões fundadas. Que se diga: “Este tipo mentiu, falseou”. Não o vi mentir. “Este tipo é um incompetente”. Não acho que seja.
É difícil defender o governo tendo em conta as manifestações na rua?
Não. Acho que não é. O que é difícil é ter voz para defender o governo.
Concorda com tudo o que o governo faz?
Não, como é evidente. O governo, como todos, comete erros e vai fazer muitas coisas mal. Acho que Passos Coelho vai sair como o melhor primeiro-ministro da história de Portugal. Até porque acho que este governo só tem duas hipóteses: ou sai escorraçado ou sai em ombros. A missão patriótica e histórica é de tal grandeza que não tem duas alternativas. Vamos rezar para que saia em grande. Se isto corre mal, e eu não acredito, é uma catástrofe. Agora é difícil ter voz. É uma lógica de mediatismo. Se quiser ser notícia, consigo sê-lo todos os dias, basta dizer mal.
Isso não foi o que fez Passos Coelho quando foi líder da jota e Cavaco era primeiro-ministro?
Acho que discordou quando teve de discordar. Por exemplo, há umas semanas saiu a ideia de que o serviço militar obrigatório poderia voltar. Se isso acontecesse o governo tinha-me na linha da frente contra essa loucura. Não me sinto também nada confortável com o facto de haver jovens que não recebem bolsas porque os pais têm dívidas às finanças. Já pedi uma reunião com o ministro da Educação. Não acredito num país onde há jovens que não estudam porque não têm condições, mas também não acredito que independentemente do rendimento, paguem o mesmo.
Defende um modelo diferenciado pelo rendimento?
A questão é: faz sentido um agregado familiar de 10, 15, 20 mil euros pagar as mesmas propinas do que um agregado mais pobre?
Qual é o modelo a seguir?
Quem mais ganha tem de pagar mais para que quem não tem possibilidades possa pagar menos.
Os impostos não fazem já essa diferenciação?
Sim, mas a verdade é também que os impostos não chegam para pagar o Estado social. É preciso encontrar um mecanismo que seja sustentável e a nossa geração deve defender este Estado social.
Como é que é possível cortar os 4 mil milhões ou a reforma do Estado ou as poupanças, como prefere agora o governo dizer, sem ser na Saúde, Educação e Segurança Social?
A JSD foi a primeira a querer liderar esse debate. Não quero que haja uma meta. Foi um erro político colocar a questão dizendo que tem de se reformar cortando quatro mil milhões. A questão é que queremos reformar o Estado porque queremos dar-lhe sustentabilidade.
Isso é o que defende António José Seguro, que diz que está disposto a debater a reforma sem ser cortar os quatro…
… sem que se corte nada. O maior atentado ao Estado democrático foi o que o PS fez ao recusar participar na comissão parlamentar. Todas as discussões difíceis, Seguro não as quer fazer. António José Seguro chegou a líder do PS sem ter opinião sobre coisa alguma. Não o consigo respeitar pela forma enviesada, titubeante, irresponsável como assume ser o líder do maior partido da oposição. Voltando à reforma. Quando saí do congresso mandei uma carta à JS a desafiá-los para nos sentarmos à mesa a discutir. Era um exemplo de maturidade.
Qual foi a resposta?
Passados três meses disseram que estão muito disponíveis, mas que nós temos uma visão muito diferente por isso nem vale a pena. Esta falta de vontade de consenso político incomoda-me.
A defesa dessas ideias e manifestações constantes como a do passado sábado não é a prova de que o PSD se está a afastar dos portugueses?
Vou dizer uma crueldade que sei que as pessoas, sobretudo a laranjada, não gosta que se diga. Vivemos há 35 anos num país onde toda a gente diz mal, o diagnóstico está feito há muitos anos, a primeira vez que um governo começa a mexer em tudo, falando a verdade, as pessoas afastam-se porque não é popular, não é eleitoralista. Se a consequência de o governo fazer o que tem de fazer é preciso perder eleições, então eu estou como o Passos: que se percam as eleições.
O partido aceita isso?
Espero bem que aceite. Quero crer que sim.
Tem ouvido muitas queixas?
Sim, muitas.
De amigos?
E dos meus pais. Estar na vida política é uma coisa a full-time. A minha mãe olha para mim e diz-me que lhe cortaram 300 euros de pensão e pergunta-me: “o que é isto?”. E queixam-se. Todos os dias ouço queixas, muitas.
Tem amigos que foram à manifestação?
Devo ter. Os mais próximos não porque no sábado fiz anos e estavam todos na minha festa.
Já foi a alguma manifestação?
Sim, a várias. Liderei algumas quando estava nas associações de estudantes.
Só contra governos socialistas?
Não. Quando acreditava nas causas. Agora não posso ir a uma manifestação que diz “Que se lixe a troika”. Já escrevi um artigo em que pergunto: “E se a troika nos manda lixar a nós?”
Foi à manifestação da “Geração à rasca” quando José Sócrates era primeiro-ministro?
Fui. Foi uma manifestação de uma geração à rasca. E iria outra vez se houvesse uma manifestação que se chamasse “Geração á rasca”.
Se amanhã houvesse uma iria?
Sim, porque a nossa é uma geração enrascada que nunca vai viver como a dos nossos pais.
Mesmo sendo um governo PSD?
Claro que sim. Não significava que estivesse lá a dizer que este governo é uma porcaria, mas iria para alertar as pessoas para a falta de oportunidades que a minha geração tem, que é brutal.
O que tem feito o governo para combater o desemprego jovem?
Reformas estruturais por um lado, ajustamento por outro. Ninguém consegue correr com uma mochila às costas cheia de pedras, que são a dívida e o défice. A aposta na educação é fundamental.
Nuno Crato tem feito o que é suposto?
É um excelente ministro. Há muito para fazer na Educação, sobretudo falar verdade. Vamos falar verdade: o país tem cada vez menos gente, nascem cada vez menos crianças e esse é um grave problema.
O que se deve fazer?
Tem de se reduzir o número de vagas e o número de cursos.
E fechar faculdades ou politécnicos?
Tem de ser reorganizar. É preciso reorientar os politécnicos para a verdadeira função deles: ensino técnico. Acho bem que as pessoas tenham direito aos seus sonhos, mas se disserem que tens de ter média de 18 porque as vagas são poucas e tens de ter uma boa média, então tem de se lutar pela excelência.
O governo está a conseguir travar o desemprego jovem?
É claro que não está porque está a aumentar. E não está porque isto não se faz do dia para a noite.
Esse não tem sido o problema do governo: comunicação e divulgação?
Divulgação não me preocupo que seja um problema porque para foguetes, panfletos, festa-festa, já chegou. Comunicação acho que sim, mas também é muito difícil comunicar quando o país está no estado em que está. Quando se diz um milhão de vezes que se quer reformar o Estado para o tornar sustentável e o que sai é que o governo quer acabar com o Estado social, é impossível. Agora claro que há erros políticos do ponto de vista da comunicação. Há coisas que não deviam ser ditas de uma forma diferente.
O PSD não desapareceu com a ida para o governo?
A JSD não desapareceu. Se o PSD desapareceu não devia. Cada militante do partido devia fazer o que Cavaco Silva disse uma vez: pegar na sua bicicleta e pedalar, explicar às pessoas o que está a acontecer.
Alguns dos presidentes da JSD estão no topo da política. Tens ambições de chegar mais longe?
Sou a pessoa mais realizada do mundo. Adoro aquilo que faço, adoro fazer política e não tenho vergonha de o assumir. Adoro a minha profissão. Adoro ter responsabilidades e mudar a vida das pessoas, devagarinho. Mas amanhã, se o partido e aqueles que fazem as listas e os cidadãos não me elegerem eu tenho uma vida profissional que seguirei sempre. Aquilo que me reserva não sei, mas gosto muito de ter responsabilidades políticas.

Fonte: Jornal I

Sem comentários: